15 de abril de 2010

LINHA

Foi a primeira vez que todos puderam me ver nua, porém eu estava vestida. Um velho sapato, um jeans desbotado arrastando no chão, uma camisa amarela com letras grandes me denominando a Rainha da Noite. Também usava um sutiã, aliás, dois, pra prenderem bem os seios, meus seios são médios, mas de carne. Então não gosto quando a gravidade não ajuda e mostra que eles balançam e apontam a inércia. Ok, eu usava dois sutiãs. Um verde musgo e o outro bem transparente que de tão apertado machuca as costas, mas eu não ligo por ser suportável.

Eu vinha tensa, há dias eu estava tensa, não conseguia fixar e ler o papel com minha fala. Estava nervosa e isso embora fosse normal, era estranho porque eu sabia lidar com as pessoas que estariam presentes. Sabia que só haveriam duas saídas, ou seria um fracasso total, ou cada um passaria a me respeitar e ver a minha loucura tomando o passo mais comum, a normalidade.

Os dois primeiros grupos apresentaram, mas eu queria levar vida, levar o que eu sinto. É musica, são letras, são emoções que só quem é capaz de sentir são aqueles que mergulharem fundo no inferno. Pedi para que cada um se desprendesse do que tinha, e flutuasse comigo, e eu com a minimalista promessa de levá-los ao êxtase. Fui mais uma vez audaciosa, tinha o controle de tudo, até começar a dizer as palavras com tão profunda emoção que começou a cortar, e a doer, e a das palavras saiam lagrimas. Lagrimas de amor e por acreditar naquilo que desajeitadamente estava criando forma. Quem sabe de modo até grotesco. Duro, mas veja, sempre há respeito partido da concepção do que é corpo pra mim. Já que corpo é instrumento eu vou lá e me permito, e assim me expresso de forma nua e crua.



 

 




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