13 de janeiro de 2010

Madame Sartre - Primeiro Ato.

                                                     

Madame Sartre desde muito nova já estava acostuma a deitar-se com vários homens. Provava os gostos, os melhores líquidos, sentia os piores odores e prazeres que seu corpo permitia sentir. Ao longo dos anos inúmeros abortos, coitos interrompidos, orgasmos mal atingidos, assim então ela foi a mais promiscua de todas as putas de Manhattan.

Tudo muito imundo, paredes mal lavadas, cama desarrumada. Pouca luz, meio tom. Um ambiente quase que alaranjado. Piso muito úmido, um pouco encharcado de água acumulada de restos de chuva. Esmegmas endurecidos por baixo nos móveis. Gozos amarelados e outros vestígios de gente. E incontáveis objetos que sussurravam coisas sobre seus donos e tudo que já se passou naquele quarto.

Toda inibição que qualquer homem ou mulher poderia ter naquele lugar era fortemente contrariado com o charme, beleza, com a carne, as unhas e os gemidos de Sartre. Que costumava dizer “Seja quente ou frio, morno jamais. Se não eu vomito em você!”.
Aos 12 anos trepava em todos os lugares, bebia todas a bebidas, fumava de tudo. E sentia o pó da cocaína misturando-se com seus pós. Que ia desde as primeiras vértebras sacrais até o ultimo pó do osso e se equalizava com o ritmo frenético com que o sangue corria por dentre suas veias e pulsava até o coração. E repetia. E repetia.

Os pênis mais artísticos, as vaginas mais rasgadas, alguns pelos engolidos, sangue espalhado e as pessoas bem comidas. Era o amor que estava ali. Amor a carne, e não amor a alma. Mesmo trepando com quer que seja a alma nunca é tocada se não quisermos! Não é questão de escolha se sentir bem sendo comida por alguém, é concentração, inspiração, intensidade, livros bem interpretados, notas sincronizadas, e uma larga vida de desejos sem repressões e desejos de atos recíprocos de todos os lados.
Ela poderia ir pra cama sem envolver dinheiro, um prato de comida. Uma garrafa de conhaque. Era apenas por querer gozar, ela se amava às vezes. Poderia se masturbar o dia inteiro e não dizer palavra alguma, apenas gestos, fantasias. Movimentos certas vezes puros. Digo, suaves, outras vezes agressivos, sado masoquistas.

                                         
 
Enfim. Sartre.

Aos 27 anos ela engravidou e seus transtornos psíquicos começaram a ficar evidentes. Mesmo sem aceitar, essa gravidez ela quis ir mais adiante. Não procurou açougue, matadouro nenhum. Dessa vez ela resolveu dar asas a imaginação assassina que tinha. Ela pensava. Se eu deixei um homem jorrar porra dentro de mim foi uma escolha minha. Independente de quem foi o homem. Então eu posso ter o livre arbitre de escolher o destino que essa criança pode ter.

Ao perceber que sua menstruação já não virará mais, ela resolveu se deixar cortar. Ela mesmo abria as pernas ao maximo e metia até o fundo da vagina aquelas escovas de cabelo, duras, com cabo de madeira. Até sangrar. Ou pegava uma gilete cega, e cortava a borda da buceta, e raspava com força os grandes lábios. E assim o sangue vinha, e quando começava o processo de cicatrização ela repetia tudo.

Fazia greve de fome e um acordo com a bebida. Bebida que poderia ser porra, gozo feminino ou vodka. Ela tinha litros dentro dela. Sangue, água, álcool e tudo de liquido que houver em nosso organismo que eu não conheço. Sei que havia liquido.
Quando a barriga começara a crescer ela esmurrava a barriga com força até ficar roxo, a arranhava com freqüência. Mesma freqüência com que ela se jogava contra a quina da parede.

Com a gravidez conturbada e seu corpo visivelmente estraçalhado. Com marcas de pontos, com cicatrizes profundas, com mamilos queimados. Clitóris mutilado, língua dividida, dentes apodrecidos. E o fedor que vinha dela propagavam pelo quarto do já falido Manhattan. Ela era uma das únicas putas que ainda permaneciam naquele lugar.

Em uma noite típica como as utópicas historias de filmes. Sartre teve seu filho sozinha em uma cama enferrujada, e o chutou fazendo o bebê cair ao lado de suas fezes que permaneciam naquele lugar a dias, a criança não chorava, não gritava, como quem aceita viver naquela condição apenas porque seu lado maternal suplica para ela ficar ao seu lado. A criança estava viva. O corpo pequeno, um pouco duro, um pouco roxo. Depois de algumas horas o choro infernal da criança chamará a atenção dos outros vizinhos. E chamaram a policia. A policia veio e viu tudo que estava ali. E sua cara amanhecida de 27 anos parecia ter 50. 4:35 da madrugada e levaram mãe, filho e documentos da li.
Outra historia começaria. Bem forte e com amor.


Continua.